Quando não se conhece algo e isso
nos traz uma preocupação somente as coisas negativas são ressaltadas. Dirigir
um automóvel sempre fez parte dos meus desejos de realização, assim como sempre
foi destacado por mim. Nunca me imaginei dirigindo.
Depois de quase dois anos de
acompanhamento psicológico, este ano de 2014, enfim, passei a ser mais um dos
motoristas brasileiros a conviver com os problemas inerentes, antes
imperceptíveis.
Durante o longo período de
inatividade só foram acumulados os malefícios dessa atividade, pois, para mim,
sair com um carro era como se me preparasse para entrar numa guerra. Não era um
medo tão injustificado assim. No Brasil, mata-se mais no trânsito do que em
qualquer guerra declarada no mundo. Se o número de mortes é grande, o de
feridos é incalculável.
Sem retirar nenhuma das
restrições, na rua existe colaboração entre as pessoas, e não só a tragédia
imaginada. As pessoas colaboram mais do que a gente percebe quando não faz
parte dessa loucura de dirigir.
A mania de levar vantagem
indevida em tudo está muito presente nas atitudes dos brasileiros em geral. Com
os motoristas não poderia ser diferente e talvez isso seja uma das maiores
causas dos acidentes. O sinal amarelo serve para avisar que a velocidade deve
ser reduzida para abrir passagem ao outro lado. Aqui, é quase unanimidade a
aceleração automática do carro para alcançá-lo no início do vermelho. Tanto que
é comum o congestionamento aumentar devido ao bloqueio dos cruzamentos.
Não há quem gosta de ser acossado
por outro, mas existem ultrapassagens feitas em momentos emergenciais. Quando
um motorista pede passagem, a tendência do outro é encarar isso como uma
afronta, um desaforo, uma provocação e aí vem a grosseria, o revide, em lugar
de cortesia ou colaboração.
Também há o vício de se encarar o
trânsito como uma disputa automobilística, como afirmação de superioridade.
Isso se constata pela diferença do tratamento privilegiado dado a quem tem
carrões daqueles que têm carros simples ou verdadeiras “latas-velhas”.
Como todos os demais segmentos, o
trânsito é reflexo do comportamento e da cultura de cada sociedade.
Mas, sem dúvida, há demonstração
de solidariedade a todo instante nesse universo até então desconhecido para mim.
Ainda é preciso que as pessoas agradeçam mais quando recebem apoio, já que não
é habitual; um farol, uma buzinada, um aceno qualquer.
E se cada novo motorista se
autovigiar para não adquirir o hábito da pressa, um passo importante será dado
para diminuir essa carnífice que teima em não arrefecer. Parece contraditório
ou uma dicotomia extrema. Ou não? Como diria um famoso baiano.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP para o JV
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