Cronicas atalaienses - O subir das águas é assim!




Janeiro trouxe na bagagem a temporada de cheia dos rios na região do Alto Solimões, principalmente do nosso velho e querido Rio Javari. Este fenômeno natural atinge também outros afluentes, como o Rio Itacoaí. 

Com a cheia, vem a fartura de peixes e o açaí atalaiense com o seu sabor inigualável. Apesar de tudo isso, existe uma grande preocupação do ribeirinho que depende totalmente da área de várzea, que é a região atingida diretamente pela subida das águas. Isso reflete e modifica a vida de todo o beiradão.

Com isso vem a preocupação com a roça, que esta altura, está repleta de banana, feijão e macaxeira, os alimentos mais consumidos na região e que são cultivados lá mesmo.

Porém, a velocidade das águas é maior e acaba invadindo as plantações dos produtores locais. Isso deixa o ribeirinho “ilhado”. Às vezes, o forno da casa de farinha sequer está pronto e o “macaxeiral” já está totalmente debaixo d’água. A única forma de salvar a plantação é fazendo a colheita no mergulho. Sem contar que a macaxeira corre um grande risco de chegar “puba” ao seu destino.

Umas das vantagens é que o ribeirinho pesca do alpendre da casa, seja de tarrafa ou malhadeirinha, recursos do dia a dia. O resultado é satisfatório, pode-se pegar pacu, piau, branquinha e chorona, delícias que, com certeza, irão se tornar uma grande e deliciosa caldeirada, sem muita frescura, temperada apenas com cheiro verde e pimenta cheirosa. 

Após o preparo, a refeição é servida na cozinha mesmo, com assoalho de paxiúba, superfície lisinha, onde a cuia de farinha d’água ou seca, desliza sem medo. Nas paredes da casa, podemos notar os utensílios domésticos limpos e com areação impecável, brilhando mais que o sol do meio-dia. 

Entre a vida corrida das cidades - onde não vemos de fato as horas passarem - prefiro o meu beiradão, onde não precisamos de tanto para viver bem. 

Mas nem por isso estamos desorientados, muito menos por fora das novidades. Gostamos das músicas da moda, quando não toca no rádio, ouço no meu smartphone novinho.

Estamos distantes, talvez “desatualizados” – como falam por aí - mas não troco minha vida por outra de jeito nenhum!


Texto: Nailson Tenazor e Matheus Ravel Tenazor

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