Quando alguém se dispõe a
escrever sobre escândalos no Brasil a primeira dificuldade é ter algo
interessante a escrever. De tão rotineiro, não há nada de diferente.
Falar que o próximo apequena o do
momento, já é velho. Apontar que laranjas são utilizados, procedimentos legais,
empresas fantasmas, recibos de serviços de assessorias já estão desmoralizados,
negação de que não conhecem colegas e amigos com quem trabalharam a vida
inteira, afirmar que estiveram com os corruptos ou corruptores para tratarem de
coisas triviais, como no Petrolão teriam sido reuniões entre a ex-presidenta
Graça Foster e ex-diretora Venina Velosa. Chamar de bandido o companheiro de
almoço no dia anterior fecha o ciclo de cinismo.
É velho também que os órgãos
oficiais de prevenção e de fiscalização são os mesmos e que corrupção nada tem
a ver com gente de cima, como foi isentada a presidente do Conselho de
Administração pelo Tribunal de Contas da União pelas eventuais irregularidades
na compra da refinaria de Pasadena. Tem responsabilidade quem digitou o
documento, não quem assinou.
Então, a conclusão seria que não
há nada de diferente no Petrolão. Entretanto, existem peculiaridades, senão
pela natureza, ao menos pela expertise de alguns acusados ou pelo tamanho da
bolada surrupiada.
A primeira peculiaridade seria a
concomitância de dois gigantescos escândalos de corrupção. Até o julgamento, o
mensalão era considerado o maior escândalo de que se tinha notícia no Brasil.
Seguindo a lógica e tradição, o brasileiro já deveria estar preparado para
quando descobrir outro maior daqui a alguns dias. Todos sabem que é difícil
imaginar se haveria de onde tirar tanto dinheiro, mas deve haver, porque essa
era a crença para deduzir que nada poderia superar o mensalão.
Muito cômico também foram as
defesas prévias às empresas citadas, lideradas especialmente pela presidenta
Dilma Rousseff. Firmaram um entendimento bucólico rápido de que a melhor saída
para administração pública continuar contratando com empresas assumidamente
corruptas; jamais o rompimento dos contratos. Uma colocação desta, num país
mais sério, geraria a queda imediata de quem a fizesse.
Ou na mesma linha, com outras
palavras, o argumento de que se deve punir as pessoas e não as empresas. A
administração pública contratou com as “pessoas” ou com as empresas? Essas
empresas são pessoas? Jurídicas, claro. Pode-se contratar com “incapazes” que
não respondem pelos seus atos? Essas ondas inconsistentes viram verdadeiros tsunamis.
Nem ficam corados pela tentativa de burlar leis, procedimentos, princípios e
valores em benefício de alguns, em detrimento de toda a sociedade.
Para clarear aos formadores de
opinião e à chamada grande mídia nacional, cito uma frase do cantor Chico
César, na música Benazir, quando afirma “que esse medo triste é você... o olho
que existe é o que vê”. Para quem não entende, explica-se: “o olho que existe é
o que vê”.
No final, a tradição de ninguém
ser punido se imporá. O mensalão levou 7 anos para ser julgado em única
instância. Pela magnitude do Petrolão e por ter se iniciado na Primeira
Instância, daqui a 20 anos deve ser julgado. O juiz singular tem demonstrado
uma seriedade ímpar, um preparo brilhante, um empenho extraordinário. Mas o
andamento depende de outras instâncias. Com a celeridade comum de uma
tartaruga, depois de duas décadas, algumas sentenças anularão atos da primeira
fase por terem sido realizados numa sala amarela contrariando a lei que previa
a rosa. Essa é a cultura da impunidade “legalizada”, respaldada pela conivência
deliberada do Poder Judiciário brasileiro. Aí, todos os envolvidos que restarem
vivos estarão livres pela prescrição de todos os crimes.
A única coisa nova nesse episódio
já é velha. É a alegria dos envolvidos pela certeza de que não correm risco de
Joaquim Barbosa cruzar seus caminhos. Joaquim Barbosa foi mesmo um “ponto fora
da curva”.
Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP para o JV
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