Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP para o JV
Algumas questões e argumentos no Brasil são desmoralizados pela
repetição verborrágica sem uma correlação de fato. Uma delas é a ladainha
do excesso de partidos, a que algumas pessoas costumam se referir como meras
“siglas partidárias”.
Que existe excesso, todos dizem;
por que isso é ruim todos repetem que é por causa do excesso. Quando explicam
as razões, a argumentação enfraquece a defesa. O principal fundamento seria a
confusão ideológica gerada nos cidadãos, além de venderem alguns minutos no
horário de televisão nas campanhas eleitorais.
Não existe prejuízo com excesso
de ideologias porque são poucos os filiados capazes de entender o significado
de ideologia. Menos, ainda, são aqueles com capacidade de fazerem uma
associação entre sua posição ideológica e aquela adotada por um partido
político.
Quanto à venda do tempo, também
não se sustenta, pois se resolveria se não houvesse os “receptadores”, numa
disputa típica de um leilão.
Ainda nessa linha de distância
entre filiados e partidos, muitos são filiados sem sequer terem conhecimento de
que o são. Por isso, ainda é comum se detectar a duplicidade de filiação na
Justiça Eleitoral.
Esses argumentos são
insustentáveis, a não ser para bancar salários de “analistas políticos” e
encher o peito de políticos sem outra coisa importante para dizer. Mas não faltam
razões que justifiquem a insignificância dos partidos brasileiros.
Uma primeira seria a ausência de
uma atuação política de fato. As agremiações partidárias limitam-se
exclusivamente à escolha de candidatos a cargos eletivos. Não realizam nenhum
trabalho de conscientização política nem de cidadania. Entregam candidatos sem
nenhuma capacidade de gestão, e cobram voto consciente do cidadão. Não é sem
razão que a corrupção grassa de ponto a ponto deste país.
Os filiados servem apenas de
número e não participam de atividade nenhuma. Quando são chamados a participar,
limitam-se a legitimar escolhas já feitas pelos caciques. É assim com a escolha
de todos os candidatos.
Além de não estimular a
participação dos seus integrantes, os partidos são verdadeiros fantasmas.
Pouquíssimas pessoas sabem como são estruturados, como se organizam, muito
menos conhecem o endereço de um deles. Esse anonimato decorre, inclusive, da
falta de cobertura da mídia, dos institutos de pesquisas, que só falam de
partidos em época de eleição. Indaguem a alguém para que serve um partido.
Até mesmo os sítios dessas
instituições não trazem nada de interesse coletivo. Os textos constituem-se em
autoelogios, ou críticas deliberadas aos adversários, num padrão “botequim de
esquina”.
De um mal gigantesco nenhum
brasileiro escapa: os partidos são sustentados pelo Fundo Partidário, um
repasse constitucional de dinheiro público a pessoas jurídicas de direito
privado. Essa transferência automática mereceria um questionamento sobre a sua
constitucionalidade, já que não há um elo lógico entre os interesses de um
partido com o interesse público ou coletivo.
Definitivamente, os partidos são
ruins por seus próprios equívocos, por falta de atuação, por falta de clareza
sobre os fins para que são constituídos. O Brasil não tem boas lembranças do
bipartidarismo. Pelos argumentos utilizados, não faz a menor diferença de que
eles sejam duzentos ou apenas dois.
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