Brasília - A extensão continental
das fronteiras brasileiras coloca a tecnologia como elemento fundamental para
aumentar o controle do fluxo de drogas e armas. São 16.866 quilômetros no total
de fronteira terrestre, cinco vezes e meia a linha que divide Estados Unidos e
México, de pouco mais de 3 mil quilômetros. No entanto, o Sistema Integrado de
Monitoramento de Fronteiras (Sisfron), projeto iniciado ainda em 2012 como
grande aposta para enfrentar o desafio, só cobre 660 quilômetros — cerca de 4%
das fronteiras nacionais.
As informações foram publicadas
pelo jornal O Globo. Segundo a reportagem, a cobertura pífia se dá na forma de
projeto piloto, que vem sendo implantado a partir de Dourados, no Mato Grosso
do Sul. Projetado pelo Exército para integrar radares, sensores, satélites e
outros instrumentos de monitoramento e transmissão de dados, o Sisfron consumiu
R$ 1 bilhão desde o início do projeto. Em 2014, o investimento chegou no auge
de R$ 256 milhões anuais, caindo desde então. Ano passado, foi de R$ 182
milhões.
O governo atual responsabiliza o
contingenciamento de recursos nos últimos anos e a crise financeira pelo
atraso, e promete aplicar R$ 470 milhões no projeto neste ano. Enquanto a
expansão do sistema anda a passos lentos, cresce o clamor por mais homens nas
fronteiras, sobretudo após a crise no sistema penitenciário com massacres
recentes promovidos por facções ligadas ao tráfico de drogas.
Para o general Fernando Azevedo e
Silva, chefe do Estado-maior do Exército, as condições das fronteiras
brasileiras implicam necessariamente em ampliação da tecnologia: “Não adianta
botar homem na faixa de fronteira inteira. A tecnologia avança a cada dia. Tem
que ter sensores, analisar o que os satélites pegam e selecionar isso para
definir uma ação. Isso está sendo feito, mas depende um pouco do esforço do
País na parte orçamentária”.
A faixa de 150 quilômetros para
dentro, a partir da linha divisória terrestre do território nacional, é
considerada área de fronteira. Nesse espaço, militares têm poder de polícia,
podendo revistar pessoas e veículos, fazer prisões em flagrante e patrulhar.
Por esse conceito, toda a faixa de fronteira do Comando Militar da Amazônia
soma 800 mil quilômetros quadrados.
Uma das dificuldades para a expansão
do Sisfron é a natureza diversa da geografia brasileira. Para levar o projeto
para os quase 9 mil quilômetros de fronteiras amazônicas, por exemplo,
equipamentos terão de sofrer adaptações. Determinados instrumentos e a forma
como são empregados hoje no Mato Grosso do Sul terão que ser modificados para
uso no ambiente de selva.
Amazônia
Há peculiaridades na Região
Amazônica, hoje, foco de uma intensa preocupação após massacres em presídios da
região Norte relacionados a uma disputa de grupos pela rota local das drogas,
segundo autoridades. O comandante militar da Amazônia, general Geraldo Antonio
Miotto, ressalta que, apesar dos 9 mil homens do Exército na faixa de fronteira
sob sua supervisão, os rios da região que separam o Brasil e países vizinhos são
extensos e vascularizados.
“Muitos rios entram nas nossas
cidades. Vão até Manaus. Isso dificulta muito a fiscalização. Mas estamos
fazendo a nossa parte”, informouo general Miotto.
O Ministério da Defesa diz que
não é possível estimar a conclusão da implantação do Sisfron “em decorrência da
incerteza orçamentária”. A pasta explicou que após a implementação completa do
projeto piloto, o programa será reavaliado para que possa ser traçado um
cronograma.
Governo federal discute formar
uma espécie de polícia especial
Pressionado pela crise no sistema
penitenciário e com o Sisfron de alcance ainda limitado, o governo federal
discute formar uma espécie de polícia especial para a área — própria ou com
agentes destacados de órgãos existentes. Mas a proposta enfrenta sérias
resistências na cúpula federal ligada à área da Segurança. Não só pela falta de
efetivo disponível ou de dinheiro para a empreitada. Do ponto de vista técnico,
a estratégia é apontada como uma mera resposta à opinião pública.
Na Polícia Federal, o
entendimento é que o quadro de pessoal é pequeno. E que a estratégia mais
acertada seria investir na área de inteligência para sufocar
financeiramente o tráfico de drogas e de armas, sem descartar a repressão
ostensiva e a vigilância das fronteiras.
O ministro Raul Jungmann não
descarta a possibilidade, mas é cuidadoso ao lembrar que uma empreitada nesse
sentido depende prioritariamente de viabilidade financeira. “ Quando recebermos
essa determinação do presidente Michel Temer e, obviamente, os recursos
necessários, as Forças Armadas estão prontas para aumentar o seu efetivo na
Amazônia — afirmou Jungmann.
Comentários
Postar um comentário