Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP para o JV
Não é nenhuma novidade para
ninguém que o brasileiro não tem o hábito de praticar esporte. Isso é atestado
pelos resultados em competições internacionais. Dentre aqueles que praticam com
regularidade razoável, numa comparação a olho nu entre homens e mulheres,
talvez a diferença ultrapasse os 80% a favor dos homens.
Essa desproporção já vem de muito
tempo, talvez da formação humana na Terra. E, percebendo que esse percentual
ainda é maior nas denominadas classes sociais mais humildes, tomei a iniciativa
de colocar em prática uma tentativa de mudança.
Comprei redes e bolas de vôlei e
as levei a pequenos vilarejos em minha cidade Natal, Nova Soure/BA. Já no
local, com uma cal, demarcávamos uma quadra, fincávamos dois mastros (caibros)
e começávamos a jogar vôlei de imediato. Somente com mulheres. Era exatamente o
vôlei, por entender que seria o mais conhecido e com mais facilidade para a
prática dos fundamentos e para assimilação de regras, sem os detalhes. Para iniciação,
começava sempre em duplas trocando passes entre elas. Depois, já jogando para
valer o saque era por baixo da bola. Foi e é um método eficaz.
Depois do pontapé inicial, com a
ressalva de que seria para o controle ser delas, íamos para outra empreitada;
outro lugar. Ali a semente estava plantada. Ficava a bola e a rede, com o aviso
de que voltaríamos logo. Em alguns lugares, a gente voltava, os homens estavam
jogando e as mulheres assistindo ao lado. É cultural. É difícil de mudar. Mas é
preciso.
E como mudar? Eis a pergunta que
dei a minha resposta pessoal na prática, como narrada acima. Mas não tenho a
resposta coletiva. Fiz uma série de sugestões às autoridades num outro texto.
Certo é que não existem
iniciativas e ações coordenadas para fazer essa mudança e trazer às mulheres o
hábito de praticarem esporte, especialmente nas camadas mais pobres. Como todo
domínio da cultura, elas aceitam e sequer têm um pensamento voltado para
quebrar esse tabu. E não se está falando de estruturas organizadas de clubes. A
ideia seria semelhante às condições básicas dos homens simples que lotam os
campos de várzea nas grandes cidades ou nos campos de futebol do interior, que
se resumem a um terreno limpo, duro como uma pedra, duas traves e várias
histórias, torneios, festivais, com premiação que variam de troféus, dinheiro e
bois.
Talvez o empresariado, grande,
pequeno; comerciantes das pequenas cidades, todos, pudessem aderir com mais
incentivos individuais a seus funcionários e com algumas iniciativas
específicas nas empresas para integração feminina.
Fora essas pequenas sugestões, a
menção a minha iniciativa é para reforçar que é possível fazer alguma coisa, e
para dar uma satisfação a algumas pessoas que indagam se faço algo ou se apenas
critico. Talvez seja outra distorção, dentre tantas disseminadas no Brasil,
para calar ainda mais esse povo, que aceita tudo sentado e se acha politizado
por reclamar e participar de correntes no Facebook ou nos grupos de contato.
Trata-se de um alerta. Não quero
convencer a ninguém. Sigo o escritor José Saramago: “Aprendi a não tentar
convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma
tentativa de colonização do outro”. Será? Nesse caso, bem que eu gostaria.
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