Autoridades da Chechênia, uma
região da Rússia, estabeleceram campos de concentração para LGBTs, afirma
o jornal Novaya Gazeta. De acordo com denúncias
de grupos defensores dos direitos humanos, mais de 100 homens gays foram
detidos “em conexão a sua orientação sexual não-tradicional, ou suspeitas
disso”. Uma dessas prisões estaria num quartel na cidade de Argun.
Svetlana Zakharova, membro do
grupo de ativistasdenunciou
para o jornal MailOnline: “Gays estão sendo presos e levados à força.
Nós estamos trabalhando para retirar as pessoas desses campos de concentração.
Homossexuais estão fugindo da região. Aqueles que já conseguiram escapar dessas
prisões nos contaram que ficaram encarcerados num mesmo cômodo com outras 30 ou
40 pessoas. Eles são torturados com choques elétricos e espancados, às vezes
até a morte.”
Russian LGBT Network,
Um dos prisioneiros que conseguiu
escapar relatou que foi submetido a “interrogatórios” violentos, durante os
quais policiais chechenos tentavam fazer com que ele fornecesse nomes e
endereços de outros gays. As autoridades também confiscaram seu telefone
celular, e perseguiram pessoas presentes em sua lista de contatos, fossem elas
homossexuais ou não.
De acordo com
o jornal The New York Times, gays que vivem na região estão apagando
seus perfis em redes sociais, pois policiais estão utilizando perfis
falsos para convidá-los para encontros e então prendê-los.
A Chechênia é uma região
predominantemente muçulmana. Seu presidente, Razman Kayrov (foto), um aliado de
Vladimir Putin, foi quem supostamente ordenou a perseguição a LGBTs. A resposta
oficial do regime é negar essas ações, afirmando que “é impossível prender
ou reprimir um tipo de pessoa que não existe na república. Se essas pessoas
existissem na Chechênia, as autoridades não precisariam se preocupar com elas,
pois seus próprios parentes as mandariam para lugares de onde jamais
retornariam.”
A sociedade chechena é
extremamente conservadora, o que significa que parentes de LGBTs desaparecidos
não costumam pressionar as autoridades; pelo contrário, as vítimas
provavelmente já foram abandonadas por seus familiares. Além disso, fazer esse
tipo de denúncia é extremamente perigoso: “hoje em dia, poucas pessoas se
atrevem a falar com jornalistas ou ativistas dos direitos humanos, mesmo que
anonimamente”, lamenta
Tanya Lokshina, membro da ONG Human Rights Watch em Moscou. “O clima de
medo é palpável. Registrar qualquer tipo de reclamação contra a polícia local é
extremamente perigoso, pois a retaliação das autoridades locais é praticamente
inevitável.”
“É difícil superestimar a
vulnerabilidade de pessoas LGBT na Chechênia, onde a homofobia é intensa e
desenfreada”, continua Lokshina. “LGBTs correm risco não apenas de serem
perseguidos pelas autoridades, mas também de tornarem-se vítimas de
‘assassinatos para lavar a honra’, realizados por seus próprios parentes.”
O estopim para as detenções foi
uma ação do grupo de ativistas GayRussia.ru,
de Moscou. Seus membros pediram autorização para realizarem paradas do orgulho
LGBT em cidades por toda a Rússia, e estavam recolhendo as respostas negativas
dos governos, para então apresentar uma denúncia para a Corte Europeia de
Direitos Humanos, em Estrasburgo, na França. Nikolai Alekseev, um dos
ativistas, explicou para a Novaya Gazeta que a organização escolheu essa
tática por ser menos arriscada que fazer paradas sem autorização.
O pedido feito pelos ativistas em
quatro cidades em Kabardino-Balkaria, uma região próxima à Chechênia, também
muçulmana, desencadeou a reação antiLGBT do governo. A fim de cooptar os
islâmicos extremistas, Putin deu o comando da região para líderes muçulmanos
extremamente conservadores. Os meros pedidos para uma parada LGBT fez com que
as autoridades chechenas decidissem fazer uma “varredura profilática”,
procurando e prendendo homossexuais que vivem no armário. “É claro que nenhum
deles havia demonstrado sua homossexualidade em público de qualquer maneira”,
denuncia o Novaya Gazeta. “No Cáucaso, isso significaria uma pena de
morte”.
Do Uol
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