Contos Jambo Verde - O caso do Pau-de-sebo batizado



Essa história se passou há muito tempo, aqui mesmo na Pérola do Javari. Era dia festivo, e a cidade estava movimentada. Era 23 de Fevereiro, dia do Município e, havia uma tradição de montar o famoso “Pau-de-Sebo” que atraia meninos de todos os cantos da cidade. Confiantes que iriam facilmente resgatar os 500 cruzeiros no topo do mastro patrocinado pela Prefeitura.
Então, o prefeito, encarregou “Seu Pipiu” de ensebar o mastro. Na praça da cidade fervia de meninos e meninas, os maiores já tinham formado sua turma para o desafio do dia.

Os mais espertos, deixavam que os mais afoitos fizessem frente. Eu, Nonato, Rossini, Izildo, Tirin e Deizimar, já haviam formado a nossa turma tambem.
Confiando principalmente nos bons tiradores de açaí e jambeiros. E, Fomos para o desafio. Olhamos para o mastro, havia muita graxa e constatamos que não ia ser fácil a conquista dos 500 pilas. Que na época dava para comprar muita bolacha Maria e gaseosa Leticia
A torcida era enorme, já que as meninas estavam na torcida por nossa turma. Izildo fez a frente, com um saco de estopa para ir limpando a graxa. Nonato sobe nos ombros de Izildo que continuou a limpar o mastro. A galera ia ao delírio!
Mas de olho, estava à turma do Enir, que contava com famosos tiradores de açaí da baixada Fluminense.
 Dentre todos estavam Mozaniel (Bobó) e Cariqueca, além de fortes eram ágeis na peconha.
De tantas tentativas, finalmente nossa turma cansou... Dando adeus ao prêmio. Outros meninos tentaram, mas nada.
 Foi ai, que a turma do Enir entrou na briga. Eram mais de trinta, que formaram uma pirâmide humana quase chegando ao topo. Num descuido, foram abaixo.

 Era cabra gritando e outros gemendo pela queda. A torcida delirou com a espetacular queda. Na segunda tentativa, a turma da baixada foi ao topo e arrancou o envelope com a grana. Desceram a ladeira da antiga Ponte 1º de Maio numa alegria só! No restante do dia foi só comemoração.
Três dias depois...
Uma reação afetou todos os meninos que participaram da brincadeira. O nosso corpo começou a arder, queimando fortemente. A nossa pele começou a sair. Já que a única solução eram ir para o rio, onde ficávamos de “bobuia” feito jacarés, apenas com a ponta do nariz a mostra, sendo a única solução para aliviar. Assim, a ardência acalmava. No quarto dia, a pele começou a sair. Íamos ficando branco, parecendo estar com vitiligo. Quem era negro ficou branco e, quem era branco ficou rosa A turma do Enir, que eram todos, Afros descendentes, ficaram todos “alvinhos”.
Meses depois se descobriu que Seu Pipiu tinha misturado graxa com gasolina.
De fato, isso aconteceu na Perola do Javari!

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