Texto trazido do site Aleteia
Uma imagem correu mundo em forma de arrepios em novembro de 2013 e se tornou um resumo visível do pontificado de Francisco. Embora não precisasse, a imagem ganhou uma legenda magistral quando Vinicio Riva, o homem desfigurado pela neurofibromatose a quem o Papa havia abraçado, deu um depoimento que equivale à mesma cena, mas em forma de palavras certeiras:
Uma imagem correu mundo em forma de arrepios em novembro de 2013 e se tornou um resumo visível do pontificado de Francisco. Embora não precisasse, a imagem ganhou uma legenda magistral quando Vinicio Riva, o homem desfigurado pela neurofibromatose a quem o Papa havia abraçado, deu um depoimento que equivale à mesma cena, mas em forma de palavras certeiras:
“O Papa não teve medo de me
abraçar. Enquanto ele me acariciava, eu só sentia o seu amor!”
Vinicio nasceu na pequena cidade
italiana de Isola, na província de Vicenza, onde morava com a irmã menor,
Morena, e com a tia Caterina, que dedicava a vida a cuidar dos dois sobrinhos.
Tanto Vinicio quanto a irmã sofrem de neurofibromatose tipo 1, ou doença de
Recklinghausen, que provoca dolorosos tumores em todo o corpo e que ainda não
tem cura.
“Os primeiros sinais apareceram depois dos meus 15 anos. Me disseram que, aos
30, já estaria morto. Mas ainda estou aqui“, declarou Vinicio, que tinha 53
anos na época do encontro inesquecível e indescritível com o Papa Francisco –
indescritível, mas que, mesmo assim, ele tenta descrever, aproximando-nos
bastante da profunda emoção que o envolveu:
“Primeiro, eu segurei a mão dele
e, enquanto isso, com a outra mão, ele acariciou a minha cabeça e as minhas
feridas. Depois, ele me deu um abraço bem forte, abraçou a minha cabeça. Eu
apoiei minha cabeça no peito dele e os braços dele me envolveram. Ele me
apertou forte, forte, como se quisesse me mimar, e não soltava. Tentei falar,
dizer-lhe alguma coisa, mas não consegui: a emoção era forte demais. Isso durou
pouco mais de um minuto, mas pareceu uma eternidade”.
“As mãos do Papa são muito
ternas. Ternas e bonitas. Seu sorriso é claro e aberto. Mas o que mais me
impressionou foi o fato de ele não pensar duas vezes antes de me abraçar. Eu
não tenho uma doença contagiosa, mas ele não sabia disso. Ele simplesmente foi
lá e fez: acariciou todo o meu rosto e, enquanto fazia isso, eu só sentia o seu
amor”.
O abraço do Francisco que procura
revigorar a Igreja em ruínas do nosso tempo recorda o do Francisco que
restaurou a Igreja em ruínas do século XIII.
São Francisco de Assis também
abraçava aqueles a quem ninguém queria abraçar. E não era um gesto que lhe
brotasse naturalmente: para ele, era um gesto de decisão, um ato de superação e
de vencimento de si mesmo por amor a Deus e por amor aos filhos de Deus. Ele
também sentia uma repulsa natural pelos leprosos de quem todos queriam
distância – mas o amor precisava ter mais força que a repulsa.
A respeito do amor de decisão
vivido por Francisco de Assis, contamos com o seguinte testemunho legado por
São Boaventura a todas as gerações:
“Certo dia em que passeava a
cavalo na planície que fica perto de Assis, Francisco cruzou-se inesperadamente
com um leproso. Teve um sentimento de horror intenso, mas, lembrando-se da
resolução de vida perfeita que tomara, e de que devia, antes de mais, vencer-se
a si mesmo se queria ser «soldado de Cristo» (2Tim 2,3), saltou do cavalo para
abraçar o infeliz. Este, que estendia a mão pedindo uma esmola, recebeu um
beijo com o dinheiro. Em seguida, Francisco voltou a montar o cavalo. Mas, por
muito que olhasse para um lado e para o outro, não viu o leproso. Cheio de
admiração e de alegria, pôs-se a cantar louvores ao Senhor e prometeu não se
deter neste ato de generosidade.
Abandonou-se então ao espírito de
pobreza, ao gosto da humildade e aos impulsos de uma piedade profunda. Se até
então a simples visão de um leproso o fazia estremecer de horror, passou a
fazer-lhes todos os favores possíveis, com perfeita despreocupação por si
mesmo, sempre humilde e muito humano; fazia-o por causa de Cristo crucificado,
que, nas palavras do profeta, «foi desprezado como um leproso» (Is 53,3). Ia
visitá-los com frequência, dava-lhes esmolas e, emocionado de compaixão, beijava-lhes
afetuosamente as mãos e o rosto. E aos mendigos, não se contentando em lhes dar
o que tinha, quereria dar-se a si mesmo – de maneira que, quando não levava
dinheiro consigo, dava-lhes as suas vestes, descosendo-as ou rasgando-as para
as distribuir.
Foi por esta altura que realizou
a peregrinação ao túmulo do apóstolo Pedro, em Roma. Quando viu os mendigos que
fervilhavam no chão da Basílica, levado pela compaixão e atraído pelo amor da
pobreza, escolheu um dos mais miseráveis, propôs-lhe trocar as suas vestes
pelos farrapos com que o homem se cobria e passou todo o dia na companhia dos
pobres, com a alma cheia de uma alegria que nunca, até então, conhecera”.
São Boaventura, em Vida de S.
Francisco, Legenda Major, 1, 5-6
Crédito da capa: Foto: Ansa / Claudio Peri; Pintura: Creative Commons ( a montagem foi feita pelo site de origem)
Crédito da capa: Foto: Ansa / Claudio Peri; Pintura: Creative Commons ( a montagem foi feita pelo site de origem)
Comentários
Postar um comentário