Em Washington DC, Eliesio Marubo da Univaja se reunirá com autoridades para denunciar o abandono do Vale do Javari um mês após os assassinatos de Bruno Pereira e Dominic Phillips
Eliesio Marubo/Foto:Divulgação |
Procurador jurídico da União dos
Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) está na capital dos Estados Unidos
de 12 a 16 de junho para reuniões com membros do Congresso norte-americano, da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos, da Organização dos Estados
Americanos (OEA) e do Departamento de Estado
Manaus, 12 de julho de 2022 - Um
mês após as mortes de Bruno Pereira e Dominic Phillips, nenhuma medida ou plano
emergencial foi tomado pelo governo federal e pela Fundação Nacional do Índio
(FUNAI) para garantir a segurança dos indígenas e indigenistas no Vale do
Javari. Servidores e indígenas continuam recebendo ameaças, diretas e veladas,
de invasores.
Diante desse cenário de abandono
e descaso, o procurador jurídico da UNIVAJA, Eliesio Marubo, estará de 12 a 16
de julho em Washington DC, nos Estados Unidos, para participar de reuniões com
membros do Congresso norte-americano, da Comissão Interamericana de Direitos
Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA) e do Departamento
de Estado dos Estados Unidos para expor a grave situação da região do Vale do
Javari.
A organização indígena teve um
papel fundamental na coordenação das buscas e na investigação dos assassinatos
de Bruno Araújo Pereira, 41 anos, servidor licenciado da Funai e consultor da
UNIVAJA, e do jornalista britânico Dominic Phillips, 57 anos. Ambos
desaparecidos no dia 5 de junho de 2022, no rio Itaquaí, entre a cidade de
Atalaia do Norte (AM) e a Terra Indígena.
“Nossa expectativa de ida aos
Estados Unidos é ampliar o tema do Vale do Javari e dos povos indígenas
isolados no exterior, algo que a Univaja já tem feito na figura do Beto Marubo,
que é compartilhar essas informações em outros meios. Nossa expectativa sobre
essa ida a Washington é a melhor possível, uma vez que nós já iniciamos esse
debate no Brasil, através dos três poderes. A ideia agora é abrir o diálogo com
outros parceiros e governos. Recentemente, tivemos um retorno muito bom do
Parlamento Europeu. Nossa ideia é falar com esses atores internacionais tendo
como ponto de partida e foco o fortalecimento de questões que nos afligem no
Brasil. Nossa ida é também um pedido de justiça por Bruno e Dom”, afirma
Eliesio Marubo.
A viagem também servirá para que
Eliesio Marubo denuncie a grave situação dos povos indígenas isolados no Brasil
hoje, em especial no Vale do Javari, e exponha o avanço do narconegócio na
região. Além, claro, de manter a pressão internacional nas investigações.
No último dia 7 de julho, a juíza
da Comarca de Atalaia do Norte, Jacinta Silva dos Santos, publicou uma decisão
judicial referente ao pedido de conversão da prisão temporária em prisão
preventiva de três acusados (Pelado, Jefferson e Dos Santos). O caso Bruno e
Dom trata-se de um crime federal devido ao contexto da vigilância da Terra
Indígena Vale do Javari, considerada coletivamente, conforme dispõe o artigo
109, inciso XI da Constituição Federal Brasileira de 1988. Por isso, a juíza da
Justiça Estadual, acolhendo a manifestação do Ministério Público Estadual,
declinou para a Justiça Federal. A Justiça Federal precisa acolher o declínio
da Justiça Estadual.
Na quinta-feira (8), a Polícia
Federal prendeu Rubens Villar Coelho, conhecido como Colômbia. Instruído por
seu advogado, Colômbia foi voluntariamente à delegacia prestar esclarecimentos.
Colômbia foi detido por portar documentos de identificação pessoal falsos. A PF
diz investigar se Colômbia participa do esquema de extração de ilícitos ilegais
no Vale do Javari.
Agenda nos EUA Nesta terça-feira
(12), Eliesio Marubo se encontrou com membros da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH). Na quinta-feira (14), está prevista uma reunião com
representantes do Departamento de Estado dos EUA, e nesta sexta-feira (15), com
o Secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA). Ao longo dos três
dias, estão previstas três reuniões com congressistas e duas com senadores
norte-americanos.
Principais ameaças aos povos
indígenas da TI Vale do Javari A falta de fiscalização eficaz e permanente por
parte das instituições do Estado brasileiro, como a Funai, constitui um dos
maiores desafios aos povos indígenas do Vale do Javari, pois se expressa no
aumento exponencial das invasões para a extração ilegal de recursos, como carne
de caça e pesca. Em busca de carne de caça, pirarucu, tartarugas e tracajás,
pescadores e caçadores ilegais invadem a TI Vale do Javari e se espalham por
vários rios e igarapés para atender a demanda do mercado de carne de caça e
pesca da tríplice fronteira Brasil-Colômbia-Peru: um dos maiores mercados de
carne de caça do mundo,
somente comparado aos mercados de
caça da África Central. Pesquisas recentes indicam que o comércio de carne de
caça ilegal é central na região: em 2013 e 2014, cerca de 278 toneladas de
carne de caça foram comercializadas anualmente nas cidades do entorno da TI
Vale do Javari. Essas invasões ameaçam diretamente a segurança física e
alimentar dos povos indígenas aldeados e isolados.
A ação de garimpeiros ilegais de
ouro, com o uso de mais de uma centena de balsas e dragas nos rios Jutaí,
Jandiatuba e afluentes, ao longo dos últimos 20 anos na parte nordeste da TI
Vale do Javari, tem promovido violência e degradação ambiental. Essa situação
ameaça gravemente indígenas isolados e os Tsohom-dyapa de recente contato que
vivem nessa porção da TI Vale do Javari. Em 2020, a UNIVAJA em sobrevoo
realizado junto a FUNAI observou que o garimpo ilegal nessa porção da TI tem
forçado os isolados a se deslocarem compulsoriamente para outras áreas, a fim
de garantir a sua sobrevivência.
Hoje, os principais desafios à
integridade física e cultural dos povos indígenas da TI Vale do Javari são: 1)
atividades de caça e pesca ilegais para fins comerciais; 2) o garimpo ilegal
nos rios Jandiatuba e Jutaí; 3) o narconegócio na região da tríplice fronteira
Brasil-Colômbia-Peru; 4) a exploração madeireira; 5) a expansão agropecuária no
Juruá; 6) ameaça de exploração de petróleo e gásk; 7) o proselitismo religioso,
como o assédio de missionários que objetivam realizar contatos forçados com
povos indígenas isolados; 8) epidemias de doenças infectocontagiosas e do novo
coronavírus.
Por: Assessoria de imprensa do Univaja
O abandono e falta de fiscalização sempre foram evidentes!
ResponderExcluir