Taiwan acusa a China de cruzar limites marítimos com navios e aviões de guerra

 

Imagem capturada de um vídeo do Exército de Libertação Popular da China mostra o lançamento de mísseis, que teriam sobrevoado o espaço aéreo de Taiwan — Foto: Reprodução / AFP

Segundo dia de exercícios chineses envolve forças aéreas e navais no estreito que separa a ilha do continente

O governo de Taiwan denunciou que aviões e navios militares chineses cruzaram a linha mediana do estreito que separa a ilha da China continental nesta sexta-feira. O governo taiwanês atacou seu "vizinho do mal" pelas manobras militares perto da ilha.

Nas primeiras horas da manhã, "vários grupos de aeronaves e navios de combate realizaram exercícios ao redor do Estreito de Taiwan e cruzaram a linha média do estreito", disse o Ministério da Defesa de Taiwan em comunicado. "Este exercício militar chinês, seja lançando mísseis balísticos ou cruzando a linha média do estreito, é um ato altamente provocativo", acrescentou.

Nesta sexta, a mídia estatal em Pequim destacou que, na véspera, mísseis balísticos chineses sobrevoaram Taiwan como parte de grandes exercícios militares em resposta à visita da presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taipé, a capital da ilha.

Apesar dos avisos de Pequim, para a qual Taiwan é parte integral do seu território, Pelosi fez uma visita a Taipé na terça-feira, na qual garantiu que os Estados Unidos "não abandonarão" a ilha, para a qual os nacionalistas fugiram ao serem derrotados na guerra civil chinesa, em 1949.

Pelosi foi a primeira pessoa em seu cargo a visitar Taiwan desde 1997. Em 1979, quando reataram relações com Pequim, os EUA reconheceram o princípio de "uma só China" e não mantêm relações diplomáticas formais com a ilha, embora forneçam armas ao território.

Em resposta ao que Pequim considerou uma violação de sua soberania, o Exército de Libertação do Povo, as Forças Armadas chinesas, anunciaram exercícios ao redor de Taiwan que vão até este sábado, em uma escala até agora inédita.

"Reação exagerada"

Washington acusou Pequim de ter reagido "exageradamente" à visita de Pelosi e alertou que seu porta-aviões USS Reagan continuará "monitorando" os arredores de Taiwan. Os Estados Unidos também anunciaram que adiaram um teste de mísseis intercontinentais "para evitar uma maior escalada de tensões", segundo o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby.

As manobras de Pequim incluíram "disparos de mísseis convencionais" nas águas da costa leste de Taiwan, disse Shi Yi, porta-voz das Forças Armadas chinesas.

O primeiro-ministro de Taiwan, Su Tseng-chang, pediu a seus aliados que pressionem pelo fim da tensão na região.

— Não esperávamos que o vizinho mostrasse seu poder em nossos portões e pusesse em perigo arbitrário as rotas marítimas mais movimentadas do mundo com seus exercícios militares — disse Su.

Por sua vez, Pelosi afirmou em Tóquio, última parada de sua turnê asiática, que os Estados Unidos "não permitirão" que a China isole Taiwan.

— Eles podem tentar impedir que Taiwan visite outros lugares, mas não vão isolar Taiwan impedindo-nos de viajar para lá — disse Pelosi.

O Japão pediu uma "cessação imediata" das manobras chinesas, após indicar na véspera que cinco mísseis caíram em sua zona econômica exclusiva (ZEE). O primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, condenou o disparo de mísseis, chamando de "uma questão séria que afeta nossa segurança nacional e a segurança de nossos cidadãos".

Desvio de voos

Os exercícios militares acontecem em algumas das rotas marítimas mais movimentadas do planeta, por onde são transportados, por exemplo, equipamentos eletrônicos vitais de fábricas no Sudeste Asiático para os mercados mundiais.

O Escritório Marítimo e Portuário de Taiwan emitiu alertas para os navios que circulam nessa área, e várias companhias aéreas internacionais disseram que desviariam seus voos para evitar o espaço aéreo da ilha.

— Fechar essas rotas marítimas, mesmo que temporariamente, tem consequências não apenas para Taiwan, mas também para os fluxos comerciais ligados ao Japão e à Coreia do Sul — disse Nick Marro, analista sênior de comércio global da Economist Intelligence Unit.

A hipótese de uma invasão de Taiwan, com 23 milhões de habitantes, é improvável. Mas desde a eleição, em 2016, da atual presidente, Tsai Ing-wen, as ameaças de realizá-la aumentaram. Tsai, que pertence a um partido pró-independência, se recusa a reconhecer que a ilha e o continente fazem parte de "uma só China".

Nos últimos anos, multiplicaram-se as visitas a Taipé de autoridades e legisladores estrangeiros, o que aumentou a indignação de Pequim. Em resposta, a China tenta isolar Taiwan diplomaticamente e aumenta a pressão militar sobre a ilha. Apenas 14 países mantêm relações diplomáticas formais com Taipé.

 

 

Via O Globo

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