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Foto Divulgação/Vista aérea do rio Javari em Atalaia do Norte, estado do Amazonas, |
Comunidades indígenas remotas
no Brasil , com pouco ou nenhum contato com o
mundo exterior, enfrentam uma séria
ameaça do covid-19. Seus defensores acusam o governo de não
proteger esses grupos vulneráveis.
O vírus tirou a vida de um dos
membros da comunidade Los Marubo e de uma pessoa do povo indígena Tikuna, que
vive no remoto vale de Javari. Além disso, mais de 450 pessoas foram
infectadas, segundo o governo brasileiro.
“A situação no Vale do Javari é
crítica”, disse Douglas Rodrígues, médico que trabalha com grupos indígenas há
40 anos. "Estamos nos preparando para uma catástrofe", disse ele
à CNN.
No total, cerca de 800.000
indígenas vivem em aldeias em todo o território brasileiro. A maior
concentração de comunidades isoladas encontra-se no Vale do Javari, região do tamanho
da Áustria, localizada no sudoeste do estado do Amazonas, próximo à fronteira
com o Peru .
Esta é uma das últimas áreas
virgens remanescentes na Amazônia brasileira, o Vale é uma extensa rede de rios
caudalosos e densas florestas que dificultam o acesso. As viagens
geralmente são feitas de barco e as viagens são medidas em dias ao invés de
horas. A cidade mais próxima, Atalaia do Norte, fica a quase 1.126
quilômetros de Manús, capital do estado do Amazonas.
É o lar de cerca de 6.900
indígenas, representando cerca de 16 grupos isolados, de acordo com a Fundação
Nacional do Índio (FUNAI), órgão do governo que fiscaliza os assuntos
indígenas.
Desde março, quando o coronavírus foi relatado pela
primeira vez no Brasil, a Funai disse aos líderes indígenas que iria
barrar a entrada no Vale para que pessoas de fora não pudessem espalhar o
vírus.
Mas isso não aconteceu, dizem os
defensores. A FUNAI não comentou a situação no Vale, mas indicou que
“adotou todas as medidas para proteger os povos indígenas no contexto da
covid-19”.
Os primeiros casos
Comunidades isoladas são
extremamente sensíveis às doenças do "homem branco", observou
Rodrigues, observando que até mesmo a gripe pode ser devastadora "porque
não têm proteção imunológica".
Na década de 1980, ele trabalhou
com o povo Zo'é no estado do Pará, onde cerca de um
terço da comunidade morreu de infecção causada após contato com
missionários.
Os primeiros casos de covid-19 no
Vale do Javari foram registrados em maio, após visita de profissionais de saúde
ao SESAI, órgão do governo responsável pela saúde indígena, segundo o líder
indígena Adelson
Kanamari, que culpou os visita para o início da pandemia no Vale.
No dia
4 de junho , o SESAI confirmou que “quatro profissionais de saúde não
indígenas” tiveram resultado positivo e, naquela semana, a agência informou que
o pessoal infectado se aposentou e só voltou ao trabalho saudável. O SESAI
indicou que todo o pessoal deve cumprir 14 dias de quarentena, passar por
exames médicos e exames para covid-19 antes de entrar no território.
Frustrada com a falta de proteção
às comunidades indígenas e indignada com a visita de agentes de saúde do SESAI
- principal órgão representativo das comunidades indígenas - a APIB (Associação
dos Povos Indígenas do Brasil) foi ao Supremo Tribunal de Justiça para forçar o
governo deve desenvolver e implementar um plano para proteger os grupos.
Em 8 de julho, o tribunal decidiu
a favor e deu ao governo federal 10 dias para apresentar um plano de
proteção às comunidades indígenas remotas.
As comunidades indígenas do
Brasil “são as mais expostas ao risco de contágio e extinção”, afirmou o
desembargador Luis Roberto Barroso na decisão. Ele pediu que sejam
erguidas barreiras para os viajantes, à força se necessário, para impedir a
entrada de não residentes, que podem ser potenciais portadores do vírus, às
terras indígenas.
Planos de proteção adiados
Porém, mais de sete semanas
depois, as idas e vindas entre órgãos do governo e o juiz Barroso continuam.
O primeiro plano foi levado à
Justiça pela SESAI e FUNAI em 29 de julho, mas foi julgado muito
genérico. Após um segundo plano de ação, apresentado em 14 de agosto,
Barrosa solicitou mais informações às agências e definiu o prazo até 7 de
setembro para uma nova versão do plano de proteção.
Esses atrasos são mortais, de
acordo com seus defensores. “É importante criar essas barreiras nas áreas
ocupadas por povos indígenas isolados, pois algumas comunidades já foram
infectadas”, disse Paulo Marubo, coordenador executivo da União dos Povos
Indígenas do Vale do Javari. "Quando as barreiras forem finalmente
implementadas, todos já estarão infectados."
A CNN entrou em contato com o
SESAI para comentar, e a organização respondeu que as barreiras eram de
responsabilidade da FUNAI, a agência de assuntos indígenas. Por sua vez, a
FUNAI não se referiu ao Vale do Javari, mas disse que já foram erguidas 311
barreiras em todo o país.
“Novas barreiras serão
implantadas de acordo com a necessidade de cada região”, acrescentou o
porta-voz da Funai.
Enquanto isso,
" continuam ocorrendo mortes e invasões", disse Eloy
Terena, advogado da APIB, referindo-se às incursões de madeireiros, garimpeiros
e caçadores ilegais em terras indígenas protegidas.
"O governo joga pingue-pongue
para ganhar tempo", disse Terena. É uma tática. Barreiras devem
ser implementadas. Se o governo não respeitar uma decisão [do tribunal],
os indígenas não têm a quem recorrer ”, concluiu.
Via CNN en espanhol
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