DITADURA NA CÂMARA


Protesto de deputado interrompido à força



Imagens gravadas com celulares por parlamentares presentes no plenário mostram a polícia legislativa retirando à força o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da cadeira da presidência. As cenas registram momentos de empurra-empurra e tensão. Ao tentar defender o marido, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL‑SP) também foi atingida.

A imprensa, por sua vez, foi impedida de acompanhar de perto a situação, sendo retirada do plenário durante o confronto também pela polícia legislativa. Repórteres que estavam presentes no local, afirmaram terem sido retirados de forma violenta.

O ato aconteceu no final da tarde desta terça-feira (9), quando Glauber ocupou a cadeira da presidência em protesto contra a cassação de seu mandato, prevista para votação nesta quarta-feira (10). “Que me arranquem da cadeira e me tirem em plenário”, afirmou o deputado, simbolizando sua resistência diante do processo.

Após ser retirado do plenário, Glauber deu declarações à imprensa na Câmara. Ele afirmou:

“Quero começar me solidarizando com a imprensa, que também foi agredida e teve seu trabalho cerceado. Estou aqui há bastante tempo, e até hoje não tinha ouvido falar em cortarem o sinal da TV Câmara para impedir que as pessoas acompanhassem o que estava acontecendo dentro do plenário.”

Sobre a diferença de tratamento que Glauber recebeu em relação a outros deputados de direita com pedidos de cassação de mandatos, ele disse:

“A única coisa que eu pedi ao presidente da Câmara, Hugo Motta, foi que ele tivesse 1% do tratamento que teve com aqueles que sequestraram a Mesa Diretora por 48 horas — dois dias — em associação com o deputado que está nos Estados Unidos conspirando contra o nosso país. Com eles, houve diálogo, e em nenhum momento se cogitou tirá-los com a Polícia Legislativa.”

Glauber situou sua cassação dentro de um contexto político mais amplo:

“Eles querem manter os direitos políticos de Eduardo Bolsonaro. Isso não é novidade. Fizeram a mesma coisa com Chiquinho Brazão, acusado de ser o mandante do assassinato de Marielle. E, ao mesmo tempo, comparam com o caso da Carla Zambelli, que já teve os direitos políticos cassados e está presa. Essa ofensiva é uma anistia aos golpistas, com a manutenção dos direitos políticos daqueles que, esses sim, fizeram de tudo para restringir a liberdade democrática no Brasil.”

Sobre sua ocupação da cadeira da presidência:

“A minha presença na cadeira da presidência foi para demonstrar que a gente não pode se render. Eu bati de frente contra o orçamento secreto, e isso não é motivo para cassação de mandato. […] É uma tentativa de silenciamento.”Momento em que deputado Glauber Braga ocupou a cadeira da presidência da Câmara
Processo de cassação

Glauber responde por quebra de decoro após empurrar e expulsar um militante do MBL dentro da Câmara, depois de ter sido ofendido. O fato ocorreu no ano passado. O Conselho de Ética recomendou a cassação, e a CCJ rejeitou o recurso do deputado, levando o caso ao plenário.

Em vídeo publicado nas redes, Glauber afirmou que não irá recuar diante da votação e que seguirá denunciando o chamado “orçamento secreto”. Ele agradeceu as manifestações de apoio e disse estar “firme”, acrescentando que não pretende “abaixar a cabeça” para aqueles que, segundo ele, tentam silenciá-lo.

O episódio envolveu a ofensa de um militante do MBL à mãe de Glauber, Saudade Braga, ex-prefeita de Nova Friburgo (RJ). Ela morreu em maio de 2024, vítima de insuficiência respiratória após um quadro avançado de Alzheimer — menos de um mês depois da ofensa registrada na Câmara.Deputado Glauber Braga (PSOL-RJ)
Tratamento distinto à direita

Zambelli e Ramagem, porém, chegam à votação por motivos completamente diferentes e muito mais graves. Zambelli foi condenada pelo STF por invasão de sistema e falsidade ideológica, recebeu pena de 10 anos de prisão e teve o mandato cassado pela Corte. Ela está presa na Itália e afastada do cargo, mas a Câmara posterga há cinco meses o cumprimento da decisão do Supremo.

Já Ramagem fugiu para os Estados Unidos durante o julgamento da trama golpista pelo STF, processo no qual foi condenado a 16 anos e um mês de prisão por participação na tentativa de golpe. O Supremo também determinou a perda do mandato.

Ele teria se mudado, em setembro, para um condomínio de luxo em North Miami, na Flórida, enquanto gravava vídeos e votava à distância nas sessões da Câmara, amparado por um atestado médico.

Motta também afirmou que a Mesa Diretora ainda irá analisar a situação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que já ultrapassou o limite de faltas permitido e pode ter o mandato questionado. O deputado está nos Estados Unidos desde março, período em que deixou de comparecer às sessões enquanto a manutenção de seus assessores custou mais de R$ 1 milhão aos cofres públicos.

Mesmo com naturezas distintas, os casos de Zambelli e Glauber terão o destino decidido no mesmo dia. Já o pedido de cassação de Ramagem ficou para semana que vem. O caso de Eduardo ainda não tem data definida.

O arranjo mostra como a Câmara coloca lado a lado acusações de naturezas completamente diferentes, criando uma aparência de uniformidade que não corresponde à gravidade de cada caso.

*Com informações da Folhapress




Por: ICL Noticias

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