Pedro Cardoso da Costa –
Interlagos/SP
Muita gente fica estarrecida com
as imagens televisas de pessoas decapitando outras, mostradas nestes dois
massacres recentes: o de Manaus, com 64 mortos, e de Roraima, com quase 40.
Quem se choca com as cenas nem se
apercebe de que as justificativas e as medidas tomadas pelas autoridades são
mais preocupantes. Também não se atentam para o fato de “acidentes”, como disse
o presidente Michel Temer, se repetirem há décadas, e de que as medidas tomadas
no passado, que não resolveram nem amenizaram nada, também são iguaizinhas as
de hoje.
Até a cobertura da imprensa sobre
o assunto é igual a de 1992, quando 111 pessoas foram mortas pela polícia
Militar de São Paulo no complexo do Carandiru. Os diagnósticos dos
“especialistas” idem. Vejamos os mais comuns.
Explicam, por exemplo, que os
condenados deveriam ficar separados entre aqueles que cometeram crimes menos
graves daqueles sanguinários. Também são sempre mencionadas a superlotação, as
condições precárias, a corrupção de agentes – até pouco falada diante do seu
tamanho e a falta de medidas de ressocialização. Como se fosse alguma novidade.
Já as autoridades dão um show de
horror, a começar por nem se saber quantas pessoas estão presas onde ocorre um
motim ou um genocídio. Depois, não sabem com exatidão quantos fugiram nem
quantos morreram. Qualquer tabela de word, em qualquer versão, resolveria esse
problema.
Quanto às medidas para contornar
a situação, a primeira é colocar um robô falante a dar explicações e apontar
soluções. No caso atual foi o ministro da Justiça. E fala com a convicção
estupenda de que o mundo está acreditando nelas, mas com a certeza interior de
que nenhuma alma viva confia numa só palavra do que diz. Dinheiro, que
sempre falta na prevenção, até a quem pede socorro, começa a jorrar na verborragia
palaciana. Lembro bem de uma proposta do então ministro Márcio Thomaz Bastos
para a construção de cinco presídios federais. Nem sei se algum foi construído
na sua gestão. E cinco para o número mágico da falácia.
Aí, transferem os presos de um lado
para o outro. Ninguém contesta ou indaga sobre essa ilusão de ótica, pois todos
os presídios do país estão superlotados. Além dos famosos mutirões para soltar
quem já deveria estar solto. Ora, deveriam abrir investigação para punir quem
manteve na prisão uma pessoa que deveria estar solta. Vou terminar mencionando
as reuniões realizadas para os fotógrafos e jornalistas. A última desse tipo
foi a da presidente do Supremo Tribunal Federal com o presidente da República.
Que solução vai trazer uma autoridade que não teve condições de adentrar uma
das detenções que tentara visitar há poucos meses!
Existirem os problemas é grave;
mais grave, porém, é saber que daqui a mais algumas décadas eles se repetirão
da mesma forma e com as mesmas autoridades se desculpando e batendo cabeça.
Para fechar, coloco uma frase
anônima que diz: “uma caneta na mão de um político mata mais do que uma arma na
mão de um bandido”. Por demonstrarem tanta fragilidade e enganação, eles
conseguem matar a esperança até do mais otimista dos brasileiros.
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