O ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, que depôs
ao juiz Sérgio Moro em uma ação da Lava Jato nesta quarta-feira (10),
entrou em contradição ao ser questionado se sabia da relação entre o ex-diretor
da Petrobras Renato
Duque e ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.
Lula disse primeiro que não tinha
conhecimento da relação dos dois. Depois, ele admitiu que pediu que Vaccari
intermediasse um encontro com Duque.
Moro chamou a atenção do
ex-presidente com relação às declarações. Veja parte do trecho:
Sérgio Moro: O senhor Renato
Duque tinha alguma relação com o senhor João Vaccari Neto?
Lula: Não sei.
Sérgio Moro: O senhor
ex-presidente não tinha conhecimento de nenhuma relação entre os dois?
Lula: Eu sei que tinha porque na
denúncia aparece...
Sérgio Moro: Não, na época dos
fatos né?
Lula: Não.
Sérgio Moro: Salvo equívoco meu,
senhor ex-presidente, há pouco eu perguntei se o senhor sabia se eles tinham
alguma relação e o senhor falou que não. Então, o senhor tinha conhecimento que
eles tinham alguma relação?
Lula: Eu pedi para o Vaccari se
ele tinha como trazer o Duque para a reunião e ele disse que tinha. Isso não
implica que ele tinha relação, implica que ele podia conhecer.
Lula é réu nesta processo e
responde por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Ele é acusado de receber
R$ 3,7 milhões em propina, de forma dissimulada, da empreiteira OAS. Em troca,
ela seria beneficiada em contratos com a Petrobras. Segundo o MPF, o dinheiro
foi destinado ao ex-presidente por meio do apartamento em Guarujá, no litoral
de São Paulo, de reformas no imóvel e também com o pagamento da guarda de bens
de Lula em um depósito da transportadora Granero.
Ainda durante o depoimento, Lula
disse que no governo dele a nomeação dos diretores da Petrobras seguia a mesma
lógica dos governos anteriores. O presidente nomeava indicados dos partidos
políticos em busca de apoio no Congresso. Mas Lula negou que soubesse de
irregularidades.
Moro, então, perguntou se Lula
não se informava sobre o que ocorria no âmbito da Petrobras ou com os diretores
que ele indicou. "O senhor acha que as pessoas falariam de propina?",
rebateu o ex-presidente.
Ele detalhou que esteve
pessoalmente com Duque uma vez no Aeroporto de Congonhas. "Porque tinha
vários boatos no jornal de corrupção e de conta no exterior. Eu pedi para o
Vaccari, porque eu não tinha amizade com o Duque, pra trazer o Duque para
conversar e...", disse Lula.
O juiz questionou sobre quando
aconteceu o encontro. Por sua vez, Lula disse que não se lembrava. "Ah, eu
não tenho ideia, doutor. Eu não tenho ideia".
Moro perguntou a Lula se ele procurou
algum outro ex-diretor da Petrobras com o mesmo propósito e ele negou.
"E por que o senhor procurou
especificamente o senhor Renato Duque?", indagou Moro.
Lula respondeu que foi porque
Duque tinha sido indicado pela bancada do PT.
Depoimento de Duque
Diante do juiz Sérgio Moro, na
última sexta-feira (5), Duque acusou o ex-presidente Lula de ter recomendado
que destruísse provas da propina recebida por petistas fora do Brasil no
escândalo do Petrolão. Ele também relatou três encontros com o ex-presidente,
entre 2012 e 2014, quando já não trabalhava mais na estatal e Lula não era mais
presidente.
Duque afirmou que Lula
determinou, por meio do ex-ministro Paulo Bernardo, que, a partir de 2007, a arrecadação
de propina ao PT por meio de contratos da Petrobras fosse negociada com João
Vaccari.
O ex-presidente, ainda de acordo
com Duque, era chamado de Chefe, Grande Chefe ou Nine nas conversas, segundo o
ex-diretor de Petrobras (veja no vídeo abaixo).
“Eu fui chamado a Brasília e essa
pessoa [Paulo Bernardo] falou: ‘Olha, você conhece uma pessoa indicada
pelo...’. Ele fazia esse movimento [Duque passa a mão no queixo], não citava o
nome. O presidente Lula era chamado como Chefe, Grande Chefe, Nine ou esse
movimento com a mão. Você vai receber uma pessoa que está sendo indicada e ele
vai conversar com você. Ele vai ser, agora, quem vai atuar junto às empresas que
trabalham para a Petrobras. Foi quando eu conheci o Vaccari, em 2007”.
Moro perguntou a Duque como ficou
definido o pagamento de propina ao partido político pelos estaleiros. “Os 2/3
do partido político, Vaccari me informou que iriam para o Partido dos
Trabalhadores, para José Dirceu e para Lula. Sendo que a parte do Lula seria
gerenciada por [Antonio] Palocci”, afirmou o réu.
Fonte:G1
Comentários
Postar um comentário