Membros da bancada indígena - Foto - José Valdir |
Armando Mário da Silva, Armando
Marubo (PRTB), Marcelo Marke Turu (PSDB), César Nakua Mayuruna (PT), Gilson
Mayuruna (PMDB), Cura Kanamari (PT) e Manoel Barbosa da Silva, Manoel Churimpa
(PROS) formam a bancada indígena majoritária na Câmara Municipal para o período
de 2017 a 2020. Eles vão representar a população indígenas estimada em 5.500
índios habitantes da Terra Indígena do Vale do Javari.
A solenidade de diplomação dos
eleitos foi presidida pelo juiz eleitoral da Comarca, Luís Márcio Nascimento
Albuquerque, e contou com a presença do promotor eleitoral Antonio José
Mancilha no plenário da Câmara Municipal.
Na abertura da solenidade de
diplomação, o juiz Luís Márcio dentre alguns assuntos abordados destacou a
eleição dos indígenas, fruto de um trabalho realizado a partir de 2013 pelo
Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Amazonas (TRE/AM).
A partir daquele ano o TRE
implantou seis seções eleitorais em aldeias indígenas na Terra Indígena do Vale
do Javari, a segunda maior reserva indígena do País com mais de oito milhões de
hectares, na fronteira entre o Brasil e Peru.
A eleição em Atalaia do Norte
exige por parte do Tribunal Regional Eleitoral uma logística de transporte
dispendiosa em termos financeiros, ultrapassando em mais de um milhão de reais
devido as grandes distâncias, exigindo deslocamentos via fluvial e aérea com
apoio das Forças Armadas.
A iniciativa foi decorrente após
os incidentes registrados na eleição de 2012, quando os eleitores indígenas
foram deslocados de suas aldeias para votarem na sede do município recebendo
combustível em troca de votos. Muitos indígenas viajaram mais de 1.300 km de
suas aldeias até a cidade de Atalaia do Norte.
Após a eleição eles foram
abandonados pelos candidatos derrotados na cidade. Sem alimentação, saneamento
básico e sem combustível, eles permaneceram várias semanas após as eleições no
porto da cidade distribuídos em quase cem canoas. Isso resultou na morte de
cinco crianças por diarreia fato que está sendo investigado pelo Ministério
Público Federal.
A decisão do TER/AM em implantar
seções eleitorais impediu que indígenas deixassem suas aldeias para votar na
cidade, muitos deles viajando percorrendo grandes distâncias levando até mais
de 20 dias de viagem, já que muitas aldeias estão localizadas nas cabeceiras
dos rios que cortam a região.
Foram instaladas seções nas
comunidades de São Luís, do povo Kanamary; Lobo, do povo Mayuruna; Vida Nova,
do povo Marubo; São Sebastião, do povo Marubo do médio e alto Rio Curuçá;
Remancinho, do povo Kanamary do baixo e alto rio Itacoaí; e
Paraíso, do povo Matís do Rio
Branco e Coari.
Para o vereador Manoel Churimpa
reeleito para o novo mandato, a eleição de seis indígenas é um fato histórico
em Atalaia do Norte e para o povo indígena do Vale do Javari.
“As etnias do Vale do Javari
tiveram a coragem de votar em cada parente seu. Esse momento é importante para
nós. Nós precisamos dessa parceria deles. Eu tenho muito a aprender com eles e
eles tem muito a aprender comigo”, afirmou o prefeito reeleito Nonato Tenazor.
A eleição de uma bancada
majoritária surpreendeu os políticos locais. Com as seis seções eleitorais em
aldeias, a maioria dos candidatos indígenas adotou a estratégia de fazer
campanhas dentro da Terra Indígena, diminuindo o campo de ação dos candidatos
não indígenas.
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