Bolsonaro diz na ONU que Brasil é 'vítima' de 'brutal campanha de desinformação' sobre Amazônia e Pantanal
Foto Divulgação/Planalto |
O presidente Jair Bolsonaro disse
nesta terça-feira (22), em discurso
na Assembleia das Nações Unidas (ONU), que o Brasil é "vítima" de
uma campanha "brutal" de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.
O discurso foi apresentado por meio de um vídeo gravado. Por
causa da pandemia de
Covid-19, a reunião da ONU neste ano, baseada na sede da entidade em Nova
York, foi virtual.
O presidente também falou que:
A floresta amazônica é úmida e só pega fogo nas bordas
Os responsáveis pelas queimadas são 'índios' e 'caboclos'
O
óleo derramado no litoral brasileiro em 2019 é venezuelano, foi
vendido sem controle e chegou à costa após derramamento 'criminoso'
Orientações para as pessoas ficarem em casa na pandemia
'quase' levaram o país ao 'caos social'
O Brasil é um país cristão e conservador e a 'cristofobia'
deve ser combatida
Bolsonaro disse que o Brasil tem a "melhor
legislação" sobre o meio ambiente em todo o mundo e que o país respeita as
regras de preservação da natureza.
Para ele, a riqueza da Amazônia motiva as críticas que o
país sofre na área ambiental. Bolsonaro afirmou que entidades brasileiras e
"impatrióticas" se unem a instituições internacionais para prejudicar
o país.
"Mesmo assim, somos vítimas de uma das mais brutais
campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. A Amazônia brasileira
é sabidamente riquíssima, isso explica o apoio de instituições internacionais a
essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações
brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o
governo e o próprio Brasil", afirmou Bolsonaro no vídeo.
A gestão ambiental do governo brasileiro é um dos principais
motivos de críticas que o país recebe da comunidade internacional. Desde o ano
passado, entidades, países e personalidades contestam as políticas do Brasil
para o meio ambiente. Países
europeus apontam os desmatamentos no país como entrave para confirmação
do acordo comercial Mercosul-União Europeia.
O discurso de Bolsonaro ocorre na esteira das intensas
queimadas que assolaram o Pantanal nas últimas semanas. O
bioma teve em setembro o recorde histórico de focos de incêndio para o
mês.
Na Amazônia, principal alvo de preocupação da comunidade
internacional, os alertas de desmatamento subiram
34% de agosto de 2019 a julho de 2020, de acordo com o Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No discurso, Bolsonaro disse que a floresta amazônica é
úmida. Por isso, segundo ele, o fogo não se alastra pelo interior da mata. De
acordo com o presidente, os incêndios ocorrem apenas nas bordas da Amazônia e
são realizados por "índios" e "caboclos".
"Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do
fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares,
no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em
busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas. Os focos criminosos são
combatidos com rigor e determinação", continuou o presidente.
Sobre o Pantanal, Bolsonaro afirmou que as causas das
queimadas são as altas temperaturas da região e a concentração de matéria
orgânica no solo.
"O nosso Pantanal, com área maior que muitos países
europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes
queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao
acúmulo de massa orgânica em decomposição", argumentou o presidente.
Bolsonaro disse ainda que mantém uma postura de
"tolerância zero com o crime ambiental".
Ele repetiu, como têm feito integrantes do governo, que o
fato de o Brasil ser uma potência no agronegócio motiva informações distorcidas
sobre o meio ambiente no país.
"O Brasil desponta como o maior produtor mundial de
alimentos.E, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o
nosso meio ambiente", argumentou.
Pandemia
Logo na abertura do discurso, Bolsonaro disse lamentar
"cada morte" por Covid-19. O Brasil é o segundo
país com mais mortes em decorrência da doença e o terceiro com maior
número de infectados, de acordo com a universidade norte-americana Johns
Hopkins.
Ele repetiu no discurso uma de suas principais frases sobre
a pandemia: a de que sempre defendeu ações para preservar a saúde das pessoas e
combater os efeitos econômicos da crise do coronavírus.
"Desde o princípio, alertei, em meu país, que tínhamos
dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser
tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade", afirmou o
presidente.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro criticou
as medidas de isolamento social e restrição de circulação de pessoas,
apontadas pelas autoridades sanitárias de todo o mundo como as mais eficazes
para evitar contágio e mortes por Covid-19.
Na ONU, Bolsonaro disse que a imprensa no Brasil
"politizou" o vírus e que as medidas de isolamento "quase"
levaram o país ao "caos social'.
"Como aconteceu em grande parte do mundo, parcela da
imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o pânico entre a
população. Sob o lema 'fique em casa' e 'a economia a gente vê depois', quase
trouxeram o caos social ao país", disse o presidente.
Ele defendeu medidas do governo no combate à pandemia, como
o auxílio
emergencial, aprovado pelo Congresso para ajudar trabalhadores que perderam
renda por causa da crise do coronavírus.
'Cristofobia'
Bolsonaro fez um apelo à comunidade internacional pelo
combate ao que ele chamou de “cristofobia”. Ele também pregou a defesa à
liberdade religiosa. Bolsonaro não mencionou nenhuma outra religião, além do
cristianismo.
“Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela
liberdade religiosa e pelo combate à 'cristofobia' ”, disse.
O presidente deu a declaração em um momento em que falava de
liberdade e ordem democrática.
Bolsonaro afirmou que o Brasil é um "país cristão e
conservador e tem na família sua base".
Derramamento de óleo
Também sobre a questão ambiental, Bolsonaro classificou de
“criminoso” o derramamento de óleo que atingiu a costa brasileira no ano
passado. O óleo vazado, segundo ele, é venezuelano e foi “vendido sem
controle”.
“Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento
de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio
ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo”, disse o
presidente.
Ele afirmou também que o Brasil considera importante
respeitar a liberdade de navegação, mas que “as regras de proteção ambiental
devem ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade”.
Em agosto, um ano depois do maior desastre de vazamento de
óleo do país, a Marinha do Brasil finalizou a primeira parte das investigações
sem apontar culpados e sem revelar a origem exata do derramamento que atingiu o
litoral de nove estados do Nordeste e dois do Sudeste, totalizando 130
municípios.
De acordo com apuração, ficou confirmado que o óleo é de
origem venezuelana, o que não significa que ele tenha sido lançado por navios
ou empresas daquele país.
Israel
No campo das relações internacionais, Bolsonaro declarou
apoio ao plano de paz do governo do presidente norte-americano, Donald Trump,
para Israel, apresentado em janeiro deste ano.
A iniciativa é uma tentativa para solucionar o conflito
entre israelenses e palestinos. O plano estabelece que seriam formados dois
estados, mas com a soberania de Israel sobre boa parte do vale do rio Jordão. O
território abrange partes da Cisjordânia, região que tem maioria palestina e é
reivindicada como parte do Estado palestino.
“O Brasil saúda também o Plano de Paz e Prosperidade lançado
pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora para, após mais de sete
décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do conflito
israelense-palestino”, afirmou Bolsonaro.
O presidente também demonstrou apoio aos acordos
intermediados pelo presidente norte-americano entre Israel e os Emirados Árabes
Unidos e entre Israel e Bahrein. Emirados Árabes Unidos e Bahrein são países
árabes do Golfo Pérsico. Os acordos preveem a normalização das relações
diplomáticas entre as partes. Os palestinos se opõem à essa aproximação.
“Os acordos de paz entre Israel e os Emirados Árabes Unidos,
e entre Israel e o Bahrein, três países amigos do Brasil, com os quais
ampliamos imensamente nossas relações durante o meu governo, constitui
excelente notícia”, disse Bolsonaro.
Tecnologia 5G
O presidente disse também que o país está aberto para o
desenvolvimento de tecnologia de ponta, como o 5G, "com quaisquer
parceiros que respeitem nossa soberania, prezem pela liberdade e pela proteção
de dados".
O 5G é o sinal da internet móvel de quinta geração, que
promete uma conexão cerca de dez vezes mais veloz do que o atual 4G.
O processo de implantação da nova tecnologia acabou se
transformando em mais um capítulo da guerra comercial entre China e Estados
Unidos.
Bolsonaro deu a declaração ao falar sobre o impacto da crise
provocada pelo novo coronavírus. Segundo ele, "a pandemia deixa a grande
lição de que não podemos depender apenas de umas poucas nações para produção de
insumos e meios essenciais para nossa sobrevivência".
Direitos humanos
O presidente disse que o Brasil vem sendo referência
internacional no campo dos direitos humanos pelo compromisso e dedicação no
apoio prestado pelas Forças Armadas aos refugiados venezuelanos que chegam ao
estado de Roraima.
“A Operação Acolhida, encabeçada pelo Ministério da Defesa,
recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise
político-econômica gerada pela ditadura bolivariana”, disse. Jair Bolsonaro não
citou outras ações voltadas à promoção dos direitos humanos.
Bolsonaro disse que o Brasil está comprometido com os
princípios da Carta das Nações Unidas de paz e segurança internacional,
cooperação entre as nações, respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais de todos e que o país renova o compromisso e fidelidade a esses
ideais.
Segundo o presidente, o Brasil já participou de mais de 50
operações de paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 55 mil
militares, policiais e civis em países como Angola, Timor Leste, Haiti, Líbano
e Congo.
“A paz não pode estar dissociada da segurança. A cooperação
entre os povos não pode estar dissociada da liberdade. O Brasil tem os
princípios da paz, cooperação e prevalência dos direitos humanos inscritos em
sua própria Constituição, e tradicionalmente contribui, na prática, para a
consecução desses objetivos”, disse Bolsonaro.
Organização Mundial do Comércio
Bolsonaro defendeu a reforma da Organização Mundial do
Comércio (OMC), para que a entidade apresente “disciplinas adaptadas às novas
realidades internacionais’.
O objetivo principal da OMC é fortalecer o sistema
multilateral de comércio e diminuir as barreiras entre os países. O órgão tem
sido alvo de intensas críticas, especialmente do governo norte-americano em
relação a disputas com a China.
“Reafirmo nosso apoio à reforma da Organização Mundial do
Comércio, que deve prover disciplinas adaptadas às novas realidades
internacionais”, afirmou Bolsonaro.
O presidente também disse que segue comprometido com a
conclusão dos acordos comerciais firmados entre o Mercosul e a União Europeia e
com a Associação Europeia de Livre Comércio. “Esses acordos possuem importantes
cláusulas que reforçam nossos compromissos com a proteção ambiental”, disse.
Segundo ele, o Brasil, em seu governo, “abandona uma
tradição protecionista e passa a ter na abertura comercial a ferramenta
indispensável de crescimento e transformação”.
Via g1
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